Wednesday, July 29, 2009

O RISO É A MELHOR ARMA - Artistas portugueses analisam cartoonismo chinês Por: Paulo Barbosa in HojeMacau de 28/7/2009




O CARTOON CHINES AINDA É SUBVERSIVO ?

O poder subversivo do humor gráfico é a melhor arma de defesa dos pobres e oprimidos. Em Portugal, na exposição
"A liberdade é um risco", a China foi o país com maior participação. Os organizadores justificam esta adesão pela capacidade crítica do cartoon e do riso se afirmar como a arma mais eficaz contra os despotismos. O cartoonismo chinês mantém algumas estéticas locais mas a maioria das obras popularizou-se e a importância que o cartoon editorial e de imprensa chegou a alcançar antes da Revolução Cultural, hoje jâ não é a mesma. Depois de Mao e da abertura do país, nada voltou a ser como dantes.

O RISO É A MELHOR ARMA - Artistas portugueses analisam cartoonismo chinês
Por: Paulo Barbosa

A seguir a Portugal, a China foi o país que mais cartoons enviou para a exposição "A Liberdade é um Risco", evento organizado em Lisboa no passado mês de Maio, pela Amnistia Internacional e pela FecoPortugal - Associação de Cartoonistas para assinalar o Dia Mundial da liberdade de Imprensa. Ao todo, responderam ao apelo 203 autores oriundos de 52 países, que apresentaram um total de 438 cartoons.
O facto de a China ter sido o país estrangeiro com maior participação de artistas, seguido do Irão, surpreendeu a própria organização. José Oliveira, presidente da única associação de cartoonistas portugueses, que foi fundada em Outubro de 2008, considera que se trata de uma prova do poder subversivo do humor gráfico: "Não deixa de ser curioso verificar que, dos 438 desenhos recebidos, pouquíssimos tenham vindo do mundo ocidental; dos países mais desenvolvidos. Porquê? Porque o humor é a arma de defesa - ou de ataque, se quisermos - dos pobres, dos oprimidos. É um veículo de consciencia1ização, que funciona transversalmente, captando a atenção do intelectual ou do simples analfabeto, pois um bom cartoon nem necessita de palavras", disse ao Hoje Macau.
E nem mesmo a barreira linguística impediu a elevada participação chinesa. "Como nós não fizemos o mínimo esforço específico para comunicar com eles, significa que os chineses estão atentos ao que se desenrola no mundo, designadamente no mundo do cartoon, mesmo em países tão pequenos e tão afastados como Portugal", analisou Oliveira "A quantidade de participação vinda destes territórios, comprova a força que o humor tem como ve­ículo de comunicação. E comprova de uma forma prática aquilo que todos já sabemos: existem cada vez menos fronteiras, pelo menos para o tráfego das ideias." Já a qualidade das participações cínicas foi muito diversa, englobando, segundo o dirigente da Feco, "desde trabalhos de principiante a participações muito amadurecidas, de elevada qualidade tanto ao nível plástico como ao nível do conteúdo intrínseco, ao nível do que melhor se faz no mundo hoje em dia".

ALDEIA GLOBAL
Mas será que o cartoon chinês preserva algumas características estéticas que o distingam relativamente ao ocidental? Para Osvaldo Macedo de Sousa, historiador do cartoon em Portugal e membro da Feco, é certo que "a aldeia global veio matar al­guma das originalidades específicas de cada região e cultura". Embora na China "ainda se encontram reflectidas no cartoon algumas estéticas originais, com base nas tradições locais", a maioria “ocidentalizou-se segue as escolas mais populares do universo do humor gráfico mundial". Como em todos os países há uma grande paleta de qualidades e estilos, "masnogeralollÍve1artístico dos chineses há muito bom, com artistas geniais de renome nacional e internacional", analisa.
Osvaldo de Sousa, que já organizou em Macau uma exposição de caricaturas de Mário Soares, concorda com o presidente da Feco no argumento de que a opressão politica e as censuras obrigam sempre a restrições na expressão dos artistas, mas podem também potenciar a criatividade. "Isso nota-se mais quando se mede o poder interventivo, a chama satírica de cada país e a história fez-nos ver que esta é mais alta quando não há tanta liberdade". O historiador do cartoon, que é também cantor lírico, defende que o cartoonismo acaba por ser mais activo e mais actuante nos países com crises políticas, com combates ideológicos na rua, referindo que "a forma de fugir a pressões, a perseguições é o uso de alegorias que possibilitem uma dupla leitura ao desenho; é o uso de homófonas ou palavras ambíguas para ter vários significados; ouso de animais, de objectos como heróis ou comentadores, que servem para não atacar figuras directamente".
As questões da liberdade de imprensa e da censura são hoje, na opinião de Osvaldo Macedo de Sousa, omnipresentes, afectando tanto, regimes não democráticos, como os ditos democráticos, dado que "há outras censuras mais agressivas que a censura politica". Quando a censura existe oficialmente "sabe-se o que se pode dizer e o que se tem de dizer de forma calada, mas hoje existe uma censura mais agressiva, que é a censura económica dirigida pelos periódicos, pelos seus donos que tem interesses económicos secretos, nunca se sabendo quem se pode satirizar ou não". Para o historiador, "vive-se sob a censura do politicamente correcto, que é a pior censura de todas porque vive do medo dos artistas que não querem perder o emprego, do medo dos editores que tem medo de desagradar aos chefes" Num cenário em que os donos da imprensa definem os limites pessoais de cada trabalhador, "quem quer ser mesmo livre refugia-se numa nova forma de edição do cartoon, designadamente a participação em festivais de humor; em salões Internacionais", ressume Sousa "Existe mesmo um grupo de profissionais de salões que conse­guem sobreviver economicamente só com os prémios que ganham aqui e ali".
Eduardo Welsh, um dos principais dinamizadores do Garajau, uma publicação satírica quinzenal que considera ser de "guerrilha", relativamente aos poderes instituídos na Madeira, pensa também que as restrições à liberdade existem de formas distintas. "Existem as restrições legais e as politicamente impostas, mas também as restrições editoriais, que ficam ao critério dos órgãos de comunicação social. Esta última forma tem grande peso nos países ocidentais, quando órgãos de comunicação social não desejam por em causa as suas simpatias políticas ou as suas relações comerciais." comenta. O artista dá o seu próprio exemplo, apontando que o Diário de Notícias da Madeira se recusou publicar um cartoon seu que fora publicado no DN do continente; "Na Madeira, por exemplo, o Governo exerce uma fortíssima pressão sob a imprensa O Presidente do Governo da Região Autónoma ameaçou repetidamente expropriar o Diário de Notícias da Madeira e até anunciou que iria concretizar uma 'limpeza' nos jornalistas do DN. Estas pressões incentivaram a censura." Mas o humor, "tão evasivo como corrosivo", escapa-se com mais facilidade a essas pressões. "O Dr. Jardim [chefe do governo autónomo madeirense] moveu um processo contra um dos meus cartoons, sem qualquer sucesso."
Welsh, julga que, tendo em conta a enorme população do país, "não surpreende" a elevada resposta ao desafio da Feco. Até porque, "dado que o cartoon editorial tem pouco espaço na China, é natural que os artistas procurem outros meios de participação e divulgação como, por exemplo, as exposições." O cartoonista, que já viveu na China durante 3 anos e visitou Macau várias vezes, é um conhecedor do cartoonismo chinês, que considera ter uma tradição memorável. "A década trinta foi particularmente rica, com grande artistas como Liao Binxiong, Ye Qianyu e Feng Zikai. Continuam a existir excelentes cartoonistas no país, mas o cartoon editorial e de imprensa, no período pós-Revoluçâo-Cultural, nunca reconquistou o seu lugar nos diários de grande dimensão. Por consequência, o cartoon tem pouca divulgação e impacto social; as técnicas humorísticas e satíricas são talvez mais visíveis na arte contemporânea", analisa.

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