Monday, May 27, 2013
Documentário sobre a arte do cartoonismo
www.humorgrafenews.blogspot.com
Humour de René Bouschet
às quintas Falamos de BD - 30 de Maio - 21h CNBDI da Amadora - Ler BD é saber mais
Comunicado do Sindicato dos Palhaços
O Sindicato Nacional dos Palhaços, Histriões, Jograis, Bobos, Profissionais de Stand-up Comedy e Afins do Sul e Ilhas divulgou hoje um comunicado, que abaixo reproduzimos com a devida vénia e cambalhota:
O SNPHJBPSCASI, reunido de emergência este sábado para apreciar várias notícias que nos últimos dias têm sido divulgadas sobre as declarações do sr. Sousa Tavares acerca do sr. Cavaco Silva e sobre a abertura de um inquérito às mesmas pela Procuradoria-Geral da República, vem tornar público o seu mais veemente repúdio pelas palavras do sr. Sousa Tavares, que considera altamente ofensivas e baixamente lesivas do bom nome da classe que este sindicato representa, dada a comparação degradante que essas palavras estabelecem entre os genuínos profissionais da indústria espirituosa e o referido sr. Cavaco Silva, que não é nem nunca foi palhaço, não é membro do sindicato, não tem carteira profissional nem consta que jamais tenha feito alguém esboçar o mais leve sorriso.
Como é do conhecimento geral, o sr. Cavaco Silva é um indivíduo que desconhece totalmente o que seja humor, graça ou espírito, razão pela qual carece em absoluto de habilitações para poder trabalhar na nossa indústria. Trata-se de uma pessoa carrancuda, mesquinha, bisonha, tristonha e enfadonha, logo completamente desqualificada e imprópria para consumo do público. Chamar palhaço ao sr. Cavaco Silva é tentar descaradamente fazer passar gato por lebre e, como tal, um atentado à saúde mental pública, facto para o qual o nosso sindicato não deixará de chamar a atenção da ASAE.
O SNPHJBPSCASI aplaude as diligências encetadas pelo Ministério Público, na esperança de que esta grave ofensa à imagem, reputação e goodwill da nobre actividade histriónica dê origem a um processo contra o sr. Sousa Tavares, tanto mais que este senhor, em lugar de se retractar devidamente e apresentar um claro pedido de desculpas à nossa classe, apenas se desculpou pifiamente, ao declarar que foi “excessivo” chamar palhaço ao sr. Cavaco Silva. Ora o ambíguo e eufemístico termo “excessivo” fica muito aquém da justiça que nos é publicamente devida, pois o sr. Sousa Tavares deveria ter reconhecido que foi não “excessivamente”, mas sim tremenda e escandalosamente benevolente ao conceder o cobiçado título de palhaço ao deprimente, desinteressante e enfadonho sr. Cavaco Silva.
Thursday, May 23, 2013
Prémios Profissionais de BD - Cerimonia de entrega de Prémios - Torre do Tombo, 24 de Maio pelas 17h30
Tuesday, May 21, 2013
XV Salão Luso-Galaico de Caricatura – Douro 2013 - Nova data limite de envio de trabalhos - 1 de Junho de 2013
Infelizmente parece que o humor também está em
crise porque hoje ao terminar o prazo do XV Salão Luso-Galaico de Caricatura –
Douro 2013 só temos 10 trabalhos
participantes quando o normal é ter uns 100. É o tema? É a falta de interesse
dos artistas? Para tentar salvar o Salão, quando os políticos desejam
aproveitar todas as oportunidades para cortar o apoio a estas manifestações
supérfluas, e sem interesse político, vou alargar o prazo de entrega do
material, ou seja a nova data limite é dia 1 de Junho
O tema pode ser também alargado para o universo da construção
vinicula do Douro, os seus barcos especiais, os "Rabelos", as cubas
do vinho, os degraus do douro... ou caricaturas de arquitectos que se tem
destacado na zona como o grande Nicolau Nasoni construtor do Solar de Mateus e
do Santuario da Nº Srª dos Remédios em Lamego, ou mais recentemente os Prémios
de Arquitectura do Douro concedidos a António Belém Lima, Paulo Moura, António
Leitão Barbosa, Souto Moura ou mesmo Siza Vieira que lá tem deixado trabalho.
XV SALÃO LUSO-GALAICO DE CARICATURA / DOURO 2013
1. Aberto à participação de todos os artistas
gráficos com humor, residentes em
Portugal e Espanha em que os trabalhos só podem vir legendados em Português ou Galego.
2. O tema
lançado a desafio aos humoristas, este ano, é "O Património Arquitectónico da Região do Douro" (na sua vasta
expressão de intervenção humana na estrutura geográfica, nos seus monumentos
megalíticos, medievais, barrocos… ou mesmo contemporâneos ou caricaturas de arquitectos
que por aqui deixaram obra). (A quem requisitar podemos enviar PDF com fotos
dos principais monumentos)
3. Cada artista
pode enviar até 5 trabalhos por e-mail
(humorgrafe.oms@gmail.com ou humorgrafe@hotmail.com), em preto e branco (formato
Jpeg 300 dpis), aberto a todas as técnicas e estilos, como caricatura, cartoon,
desenho de humor, tira, prancha de bd (história num prancha única)… A
acompanhar os desenhos deve ser enviado um mini curriculum com nome e morada,
e-mail, telefone e nº contribuinte.
4. Os trabalhos
serão julgados por um júri constituído por: representantes da Douro Alliance,
das Câmaras envolvidas e outros patrocinadores (pelo menos 5 membros), o
Presidente da Humorgrafe Osvaldo Macedo de Sousa e um cartoonista convidado,
sendo outorgados os seguintes Prémios:
* 1º Prémio do XV
SLGC / 2013 (no valor de € 1.800)
* 2º Prémio do XV
SLGC / 2013 (no valor de € 1.200)
* 3º Prémio do XV
SLGC / 2013 (no valor de € 750)
O júri poderá
outorgar, em âmbito apenas honorifico, Prémios Especiais. (Prémio Especial
Benito Losada - recordando essa figura incontornável da dinamização e
divulgação cultural de Ourense, principalmente no campo da caricatura, da BD e
da Fotografia; “Prémio Especial Aureliano Barrigas” em homenagem ao artista
vilarealense que não só cultivou a caricatura assim como foi um dos motores do
celebre Circuito Automobilístico de Vila Real; “Prémio Especial Correia Dias”
recuperando do esquecimento o artista de Lamego que foi um dos pioneiros do
modernismo em Portugal, um dos revolucionários dos novos ventos estéticos no
Brasil onde viria a morrer; Prémio Especial Júlio Montalvão Machado artista
vilarealense)
5. O júri
outorga-se o direito de não expor aqueles trabalhos que não atinjam a qualidade
mínima exigida.
6. Os trabalhos
premiados (1º,2º e 3ª Prémios) ficam automaticamente adquiridos pela
organização, razão pela qual terão de entregar o original para poderem receber
o prémio. Todos os artistas seleccionados receberão catálogo.
7. Os direitos
de reprodução são propriedade da organização, logo que seja para promoção deste
Salão, e discutidos pontualmente com os autores, no caso de outras utilizações.
8. Os trabalhos
devem ser enviados até 1 de Junho de 2013,
para humorgrafe.oms@gmail.com ou humorgrafe@hotmail.com
9. O XV Salão Luso-Galaico de Caricatura / 2013, realiza-se na
Galeria de Arte do Teatro Municipal de Vila Real. A entrega dos Prémios realiza-se na noite de 6 de Julho, noite de inauguração, com a Festa da Caricatura. A
exposição, será apresentada posteriormente em Lamego, Peso da Régua e Ourense numa
cooperação com a Casa da Xuventude.
Uma
Organização: Douro Alliance – Alm. de Grasse nº 7, 5000 – 703 Vila Real
Uma Produção:
Humorgrafe (www.humorgrafenews.blogspot.com
)
Director
artístico: Osvaldo Macedo de Sousa
Humor de Lailson
Tuesday, May 14, 2013
Crónica Rosário Breve - Felicidade é mais depressa açúcar dos caramelos que azeite dos iluminados por Daniel Abrunheiro
Agora já não, que o tomou já a calvície sem
retorno, mas ele era naquele tempo de uma cabeleira lustral qual tocha de gel.
O mesmo espaço esférico-cabeçal funcionava au
ralenti de uma acefalia atinente ao seu linguajar pulha e à sua estroinice
miseranda. Mas ela era dele assim mesmo que gostava. Isto do amor pode ter
muito que se lhe repita, mas, no fundo, nada tem que se lhe inove.
Nunca lhe conhecemos o piripíri de uma ideia, o
mentol de uma graça, a pimenta de uma hipótese, o coentro de uma opinião
perfumada de fundamento. Invariável, inevitavelmente, o seu raciocínio íngreme
estatelava-o, nunca sem estrépito e jamais sem edemas, na cloaca petrificada do
guano mais endurecido. Mas que tal lho dissessem a ela mil vezes, que mil e uma
e mais cem ela o queria e curava e amava e babujava.
Dele, lesmice e mesmice eram uma só e mesma
coisice. Se lhe causticavam uma toleima, cacarejava todo espalha-penas com
aquela estupidez indignada das galinhas-carecas quando um cachorro pueril quer
brincar às cadelas com elas. Só podia, por tudo isto, ser carimbado daquele
terrível apodo que é a derradeira coisa que se pode chamar a um zé-ninguém: era
bom-rapaz. Não fazia mal e nunca mal fez, para ela: porque ela hipostasiava
nele a essência mesma do santo, cuidada e tomada a vulgaridade piolhosa por
insígnia a mais virtuosa.
A ignorância envelheceu-o em novo, como é
quilate pindérico da beterraba que se julga ananás. Rangia de incompreensão à
face de paráfrases simples como “Quando
mais o euromerkel sobe, mais o Alcabideche”. Rábulas e fábulas de figurado
sentido moral não puderam nunca adentrar-lhe o maciço granítico sobre que os
antigos usavam chapéu e em cujo cocuruto os rastas
de jamaicana import-imitação espessam o esterco da grenha. Mas ela? Oh se
ela alguma vez outro peso de alimária quisera que lhe amulatasse a alvura!
Ele tinha dinheiro. Deixara-lho uma avó,
figurinha de cera que conseguiu, chegando embora aos 94 anos, não estourar tudo
em padres. Nisso, vá lá e venha cá, não foi ele burro: vivia, sem abrir sequer
uma mola de roupa, dos juros dessa maquia que nunca viu sol. Disso – e das
rendas de dois prédios (um com farmácia e tudo no piso térreo) sitos no miolo
comercial mais nobre da Vila. Naturalmente, ela também disso gostava muito
nele, dele emprenhando a tempo de salvaguardar para si o caldo e o cabeleireiro
da velhice amailo um fiat-uno para cada um dos quatro moços que pariu sem dor
na glória das estruturas de hélice do ADN auto-replicativo.
Foram, é claro, muitas vezes a Fátima, mas
sempre pela Marateca, à guisa de quem ruma ao Algarve da fé. Uma vez até se
deram à extravagância de ir ao Complexo do Bonito, no Entroncamento, onde
gozaram a boa sorte de assistir àquela memorável e dramática conquista da Taça
do Ribatejo pelos rapazes juniores do União de Tomar frente aos seus não menos
bravos homólogos do Alcanenense. No fim do prélio, foram os dois com sua/deles
quaternária prole fedelha alambazar-se de enguias a Escaroupim, jóia de
terra-água-ar de Salvaterra de Magos, por acaso até no mesmo dia em que os
fotógrafos Zé Freitas e Tó Vieira por lá andavam também, aquele como de costume
a fotografar passarocos e este sem fotografar fosse o que fosse por, como de
costume, andar de óptica toda obturada nas gajas.
O tempo entretanto passou (que é aliás o que ele
mais faz nos entretantos) e tornou-se hoje.
Ora, acontece que hoje é precisamente o dia em
que mais nada tenho a dizer, portanto não digo.
Saturday, May 11, 2013
Le Canard Libéré nº296
Pour être vrai et drôle, le bon réflexe chez Le Canard Libéré
Les délices du Canard : enquêtes poussées, caricatures politiques, indiscrétions croustillantes
et bien autres révélations... Surtout, ne manquez pas le rendez-vous avec votre hebdomadaire satirique du vendredi.
Bonne dégustation !
Les délices du Canard : enquêtes poussées, caricatures politiques, indiscrétions croustillantes
et bien autres révélations... Surtout, ne manquez pas le rendez-vous avec votre hebdomadaire satirique du vendredi.
Bonne dégustation !
Si vous avez des difficultés pour visualiser ce message, cliquez ici
© 2013
Thursday, May 09, 2013
Historia da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1913 por Osvaldo Macedo de Sousa
1913
Este último realizará, em 1913,
uma exposição individual, merecendo a primeira crítica pós-modernista, assinada
por Fernando Pessoa. Nela, o poeta manifesta a sua ignorância sobre o humorismo
e a sua arrogância, descrita por Leal da Câmara como raça de dominadores que
marcam fronteiras imaginária, decretando a sátira como a arte do fútil, do
ódio, uma arte satânica, na linha de Baudelaire (outro poeta). Num texto de
paradoxos, como ele confessa, acaba por dar meia dúzia de palavras sobre a arte
de Almada Negreiros, obras que ele posteriormente confessará, desconhecia, já
que não visitou a exposição. Contudo, afirmará que «Almada Negreiros pertence
aos satíricos que se aplicam a dar a futilidade das cousas /.../ Negreiros não
ê um génio manifesta-se em não se Manifestar. Eu creio que ele tem talento.
Basta reparar que ao sorriso do seu lápis se liga o polymorphismo da sua arte
para voltarmos as costas a conceder-lhe inteligência apenas...»
Outro poeta, Mário de
Sá-Carneiro, que posteriormente estará ligado a uma revista que é apresentada
como a revolucionária do Modernismo, mas mais no campo literário, também fará
comentários trocistas a outro vanguardista português: «Amadeo ê um tipo blagueur,
snob, vaidoso, intolerável, etc. etc. Parece que não se pode ser cubista sem
ser impertinente e blagueur...»
Devido ao sucesso do primeiro
Salão dos Humoristas, estes conseguem realizar, no ano seguinte uma segunda
versão, com um catálogo mais cuidado, com auto-biografias, algumas delas
burlescas, e onde, de novo, se destacará Christiano Cruz, que também será o
autor do desenho da capa. A introdução é um magnífico texto de André Brun sobre
o Humorismo, do qual já publicamos aqui alguns trechos.
Serão praticamente os mesmos
artistas a participar, mantendo-se a ausência de Luíz Filipe e Correia Dias (que
chegam a ventilar por troca de cartas a eventual participação), mas já com a
presença de Leal da Câmara (visto o principal óbice, que tinha sido o académico
Joaquim Guerreiro estar ausente), assim como mais nove artistas, destacando-se
António Soares e Mily Possoz como novos valores modernistas. Ausentar-se-ão dez
caricaturistas, sem grande perda para o Salão.
Se, na primeira vez, pela
novidade irreverente, mereceu a visita do Presidente da República, e o total
apoio da imprensa, neste ano o sucesso não foi tão grande. Se, na primeira
versão, o modernismo foi louvado pelos críticos de tendência moderna, neste
segundo ano, os críticos mais conservadores perderam o medo, e atacaram as
ousadias, as irreverências, não pelas suas concepções estéticas novas, pelas
novidades técnicas, mas sim pelo espírito mais profundo de nacionalismo.
Vivendo-se num período de
reformulação do país, de nacionalidade espicaçada contra as monarquias
europeias que não nos queriam aceitar republicanos, o nacionalismo era uma
bandeira muito forte.
Ora os conservadores
naturalistas, que já se tinham esquecido que importaram o romantismo e o
naturalismo estético (porque de alma sempre o fomos) de França, atacam os novos
por serem estrangeirados.
O naturalismo que ressaltava o
nosso pitoresco, o nosso olhar bucólico da vida, o nosso povo parado no tempo
do folclorismo, não deveria ser alterado. Aceitava-se, a custo, as mudanças
radicais políticas, como a separação do Estado e da Igreja, as reformas
Sindicais... e demais reivindicações da sociedade menor. Contudo, a cultura,
como património da Alta Sociedade, não deveria ser alterada. Está em confronto
o tradicionalismo-nacionalismo com a vanguarda-intemacionalismo, ou seja a
sociedade entalada no confronto entre o padrão da burguesia, contra o movimento
operário, um confronto que existe em toda a sociedade ocidental de então.
É verdade que o modernismo é uma
importação, como foram todas as tendências estéticas. É uma tentativa, nem
sempre conseguida, sendo muitas vezes do género "saloio" novo-riquismo,
de acompanhar o progresso cultural europeu.
Se vários são os críticos que
atacam o modernismo, destaca-se, de entre eles, Alberto de Souza, por ser um
conceituado artista, um indivíduo que deveria ter uns horizontes mais ~
receptivos à abertura do progresso. Ele, no "Diário da Tarde" de
26/5/1913 escreverá “Reconheço que há entre os novos, rapazes de valor, mas
também vejo que o que se faz é a desnacionalização da nossa caricatura.
Na "Capital" de 6/6/13
escreverá outro crítico: Contrista-nos ver a subserviência com que a maioria
dos expositores j imita a caricatura estrangeira, desprezando e deixando
esquecer os typos e costumes genuinamente portugueses, e que caracterizam a
nossa sociedade.
De novo será Christiano Cruz a
defender os artistas modernos destes ataques, desta feita no "Diário da
Tarde de 28/5/1913 dizendo: Diz o senhor AIberto de Sousa que nós, os
caricaturistas novos, temos um traço pouco nacional.
No conceito desse senhor nós
emparelhamos com os traidores à Pátria, negociando planos de mobilização e ...
fazendo caricaturas.
O traço nacional constitui, pois,
para o senhor de Sousa um símbolo nacional ao lado do hino e da bandeira ...
Mas este furor patriótico, assim manifestado, não é só do senhor Sousa: é de
todos aqueles que não vêem numa obra de arte senão as tintas.
O Sr. Sousa, como esses outros
cavalheiros, queria-nos eternamente agarrados ao tradicional, venerando
fanaticamente os bonzos da arte, copiando-lhes a maneira de ser do seu espírito
e, embebidos na sua obra, plagiando-lhes ... o traço.
O Traço ! ....
O Sr. Alberto de Sousa, porém,
considerando esses mestres como modelos, como ponto de partida de tudo o que se
fez e fizer, reconhecendo-lhes em suma, uma pureza de traço toda portuguesa,
mostra implicitamente desconhecer o paralelismo de estilo, na sua opinião,
verdadeiramente comprometedor, entre as caricaturas do jornal francês Charivari
e os seus congéneres portugueses.
Esta analogia nada tem de
desonra: o artista do seu tempo assimila e adapta ao seu temperamento o
espírito da época, reflectida na maneira de ver dos seus camaradas.
Assim, ao passo que a caricatura
moderna tem uma feição pessimista, rindo de um modo doentio e céptico, as
charges dos humoristas, nossos avós, eram de um riso franco e saudável,
revelador da mais enternecedora ingenuidade.
Temos o pressentimento de que o
Sr. A. de S. nos acusará de outro crime: o de não pintarmos tipos portugueses!
Mas, digo isto já um pouco
zangado, creia, quererá o nosso patriótico adversário que passemos a vida
desenhando a mulher da hortaliça e os galegos das malas ?
Que nos ocupemos de politica com
cOlnentários de barbeiro?
A nossa legenda é: A GUERRA À
BOTA DE ELÁSTICO!
Este será o primeiro "Grito
de Ipiranga" do Modernismo, termo que ficará na tradição popular. A
"bota-de-elástico" era uma peça de calçado usada pelo velhos
políticos, e que Salazar também optará e, dessa forma, esta peça de vestuário
ficará como ícone de conservadorismo.
O "Diário da Tarde", ao
entrevistar uma série de artistas presentes no Salão, vai dar voz aos novos, e
desse modo conhecermos quais as suas opções de ruptura. Christiano Cruz dirá
que existe um rejuvenescimento, e esse rejuvenescintento acentua-se até na
derrota infligida à caricatura política, estreita e cheia de limites. António
Soares refere a mesma questão ao dizer, acho que o golpe dado à caricatura
política é o melhor gesto dos novos, e marca uma fase nova da arte. Almada
finaliza com a sentença - os novos devem orientar-se principalmente, no sentido
de caminhar longe dos moldes de Bordallo Pinheiro.
EMMÉRICO HARTWICH NUNES UM SIMPLICISSIMUS MODERNISTA (Lisboa 6/1/1888 – Sines 18/1/1968) Por: Osvaldo Macedo de Sousa
Recordar Emmérico Nunes é abrir a arca do esquecimento, é
reabrir a história deste país tão bem esquecida oficialmente pelo poder.
Emmérico é um desconhecido mestre das nossas artes, por isso toda e qualquer
iniciativa que traga ao conhecimento mais um pouco da sua obra é sempre de
louvar. Eu, que até sou um curioso da sua obra, pouco conheço do que ele
realizou além fronteiras, ou na pintura. Infelizmente nunca tive a oportunidade
de abarcar a sua vasta e dispersa obra pictórica, publicitária, decorativa e
internacional.
Não é minha intenção fazer aqui a sua biografia, já que ele
nos deixou seus passos bem descritos numa autobiografia que eu recomendo a
leitura. Apenas desejo deixar aqui a minha modesta deambulação pelos seus
tempos e obra enquadrada na época.
Nascido no seio de uma família com formação artística (pai
arquitecto, mãe pintora, poetisa…) sempre esteve rodeado pelas musas e pela
irreverência, apesar de uma educação Burguesa de classe alta, e portanto
conservadora.
Sabemos que ainda criança se lançou nas primeiras aventuras
editoriais caseiras, com o que hoje se poderia apelidar fanzines, aos quais ele
deu por títulos pomposos de “O Paiz”, “Risota”, “Folhas Volantes”… o que
testemunha uma consciência satírica de um jovem com 10 anos.
Em sua casa liam-se os jornais humorísticos da época, razão
pela qual ele é desde tenra idade admirador de Raphael Bordallo, e mais ainda
de Leal da Câmara e Celso Hermínio que ele usufruiu na Corja, na Marselheza, e
que logo marcaram o seu pendor satírico expressionista.
O pai, como um bom chefe de família preocupado com o futuro
da prole, tenta encaminha-lo para o comércio, primeiro no Liceu Politécnico,
depois na Escola Comercial Peixoto. O mesmo tinha tentado Manuel Maria Bordallo
Pinheiro ao querer amarrar Raphael às mangas-de-alpaca, só que a irreverência
juvenil quebra na maior parte das vezes essas vontades. A teimosia artística
convence o pai a deixa-lo estudar na Escola de Belas Artes onde frequenta as
classes do Condeixa, do Alberto Nunes… O pai cauteloso questiona Malhoa sobre o
futuro do seu filho, e este profere a célebre sentença: «Se você pode, acho que
faz bem em tirar o pequeno da Escola e mandá-lo estudar para Paris. Aqui em
Lisboa está 8 anos a marcar passo. Mas em Paris o ambiente e os métodos de
ensino, se ele souber aproveitar, farão dele um artista em metade desse tempo.»
O veredicto estava dado, e lá seguiu o seu destino em 1906/7 emparceirando-se
com outros bolseiros, ou irreverentes das artes que viviam Paris como um
sorvedouro de artes. Ai não se restringiu às Academias Livres do Ferdinand
Cormon, à Academie Julien, frequenta mesmo a École dês Beaux Arts durante
quatro anos. Em 1910 faz umas incursões de pesquisa pela Inglaterra, Holanda e
Bélgica e em 1911 encontramo-lo em Munique a frequentar a Kunstakademie ou o
Atelier de Heimann… De toda aquela geração de estudantes a voarem para além
fronteiras na procura de novos caminhos estéticos, ele e Amadeo de
Souza-Cardoso serão os que melhor aproveitarão as chances oferecidas. Emmérico
estudou com os mestres possíveis, para poder renega-los e criar o seu estilo
imbuído pelas boémias parisienses ou alemãs, para captar o novo ambiente plástico
da Europa.
Amadeo em suas cartas revela um pouco o
ambiente de então ao escrever: «os amigos compatriotas, que marcham numa
rotina atrasada. Arte é bem outra coisa que quase toda a gente pensa, é bem
mais que muita gente julga. Tudo quanto para aqui se faz é medíocre, aparte
raras coisas.»
«Hoje os artistas preocupam-se com a
realidade, pretendem imitar a natureza como se ela fosse imitável, não sentem
emoções grandes, porque são neutras de nascença as suas almas - em suma, é o
ocaso duma religião que passou.»
Em Portugal a arte
não vive, sobrevive. As correntes estéticas não germinavam, nem se
desenvolviam, copiavam-se. Os ismos dominantes eram o chiadismo, o cafezismo, o
pedantismo, e o pedintismos de bolsas… o academismo regente era a imitação vazia
de escolas e quando alguns quiseram gritar uma nova liberdade estética, esse
grito soou vazio, porque ninguém pode ser livre de algo, se não conhece as
prisões dessas regras. Primeiro tem que se conhecer os Mestres a fundo para os
poder renegar.
Em Paris o que os
pensionistas encontraram foi um ambiente de anarquia filosófica-estética, onde
chocavam, e entrecruzavam-se o naturalismo, o expressionismo, o fauvismo, o
pontilismo… e tantos outros ismos irreverentes ou académicos. Raros foram os
que conseguiram visualizar algo entre tanta informação nova, optando a maioria
por se socorrer do que conheciam melhor da sua formação em terras lusas.
Regressou a maioria com os mesmos tiques plásticos, mas com alguns
deslumbramentos mais cosmopolitas, com a paleta menos sombria…
O que mais
fascinava estes jovens era por um lado a boémia parisiense, o convívio entre
idealistas das estéticas, do pensamento inovador na viragem do século… Por
outro, a oportunidade de verem ao vivo, de copiarem os mestres do passado no Louvre,
nas reproduções que aqui se encontravam com maior facilidade. Em relação às
vanguardas, a maior parte delas passavam ao lado, nas tertúlias de outro café,
nos disputas de outros círculos… e além disso, para se enveredar por essas
irreverências era necessário estar filosoficamente nessa onda, nesse via de
criatividade o que não acontecia à grande parte dos artistas que viviam por
Paris. Não tinham formação estética, filosófica ou ideológica para avançarem
nessa senda. Isso não quer dizer que no meio dos modernistas moderados não
vamos encontrar um ou outro trabalho de tendência cubista, futurista, dadaista…
numa linha mais irónica, de paródia ou de simples desvio ocasional na obra de
um artista.
Em Portugal estas
novas formas de abordar a arte, procurando recusar o passado, mas sem saber
qual o futuro, ficaram conhecidas como Modernismo. Este é um movimento sem
bases programáticas definidas, só uma vaga filosofia de utilitarismo plástico,
de síntese de expressão estrutural com alguma ideologia de socialismo estético.
É por essa razão que o humor gráfico está quase sempre presente na obra desses
jovens, quando não é ele que lidera as vanguardas mais ousadas do traço.
Temos que recordar
que este início do séc. XX, em consequência do que se foi desenvolvendo com o
liberalismo, é uma revolução no estatuto do artista. Antes ele era um
assalariado do Poder (religioso ou politico), um protegido do mecenas… Agora
ele é livre… de morrer à fome. Pode não obedecer ao gosto dos outros, mas ao
mesmo tempo tem de comprar o gosto do crítico, do galerista. A sobrevivência
será sempre o factor principal da obra de qualquer artista, e nestes novos
tempos, a ligação ao mundo empresarial (comércio, industria) será uma das
possíveis saídas artísticas.
O personagem mais
importante desta era modernista será o papel, como veículo experimental, ou
como cartão para reprodução na imprensa, no cartaz, na publicidade… O desenho
já não é um simples croqui, é a obra final num diálogo mais democrático com o
novo público. As técnicas não tem barreiras de suporte e os óleos, os pateis,
as aguarelas… assim como a desconstrução da realidade em colagens,
foto-montagens… invadem o papel “moderno”.
Emmérico Nunes que
não queria seguir a carreira comercial teve de passar a vida dependente desse
mundo. A imprensa, o cartaz, e publicidade, o design são uma vias mais fáceis
de sobrevivência, as quais exigem novas linguagens, sínteses de comunicação. Há
uma perfeita harmonia entre o desejo de ser vanguarda e a necessidade comercial
das novas formas de comunicação. O Modernismo será pois a conjugação dessas
duas vontades.
Já todos sabiam que a Política é essa grande
porca que nunca morre, antes se transforma, se renova em cada ninhada igual à
anterior. Por isso a sátira política chegou a um momento que apenas se repetia,
sendo um triste espelha da politica, uma serpente a morder a cauda, sem dar
nada de novo. Por isso Christinao Cruz, na senda do novo pensamento modernista
que domina a Europa, defende: «Depois de
Bordallo ninguém fez nada na caricatura política que mereça menção: e embora a
ela se dediquem muitos... E aos quais, note, eu não penso em negar talento, mas
ao examinar uma página dos jornais humorísticos actuais eu vejo sempre uma
página do 'António Maria' apenas virada do avesso... /…/ A caricatura
impessoal, a única que lá fora tem feito
grandes artistas, não é conhecida em Portugal. O irritante e perspicaz quem é,
acompanhando sempre a vista de um desenho impessoal, na esperança de ver surgir
as convencionais figuras dos nossos estadistas, é um sintoma da mania política
do nosso público. É preciso fazer-lhe desviar a atenção para a caricatura
social, para a caricatura de costumes, enfim, para a verdadeira caricatura: a
impessoal.»
André Brun, no Catálogo do Salão dos
Humoristas de 1913, acrescentará: «O Humorismo, desde que for a reconhecido,
baptizado e deitado à margem da arte séria, for a sempre vivendo, e se bem que
o não vissem senão sob o aspecto d'um garoto da rua, gracioso e impertinente,
ia criando músculos e caminhando com serenidade.
/…/ Um dia - o de hoje - a Arte chegou enfim
a uma franca simplicidade. Despiu-se de todos os falsos atavios que séculos
tinham ido sobrepondo sobre a nudez deslumbrante e já não busca iludir com
grandes gestos, mas convencer com raciocínio. Reduzir a vida às equações claras
e positivas, e quando a arte, professada por pontífices solenes e académicos,
chegou a esta meta, encontrou, esperando-a tranquilamente e olhando-a com um
sorriso, o Humorismo. Esse que ela sempre tomara, até então, por um gaiato irreverente,
verificou-se que for a quem sempre conduzira o facho da verdade.»
Esse novo universo de critica social é
capitaneada em França pelo “Rire”, “L’Assiete au Beurre”, na Alemanha pelo
“Simplicissimus”, pelo “Meggendorfer Blatter”… jornais que eram devorados em
Portugal pelos jovens irreverentes, e que levará 4 artistas a viverem em
Coimbra a impor o modernismo em Portugal. São eles Christiano Cruz, Correia Dias,
Luiz Philipe e Cerveira Pinto. Aconteceu em 1909. Quando se realiza em 1911 uma
exposição dita de Os Livres, já o modernismo vivia entre nós, e essa exposição
de bolseiros de Paris nada trouxe á pacata cidade de Lisboa. O seu mentor,
Manuel Bentes defendia: «A Arte não tem sistemas, tem emoções /…/ Queremos
ser livres ! Fugimos aos dogmas do ensino, às imposições dos mestres, e, quando
possível, às influências das escolas, porque cremos que os artistas têm uma só
escola - a Natureza; um dogma único - o Amor".»
De livres eles não
tinham nada, pois dependiam totalmente das bolsas do estado, e só vieram
mostrar que pouco tinham aprendido de inovador nesses anos de estudo além
fronteiras. Não fugiam aos dogmas de escolas e dos mestres, porque não as
dominavam, porque não ousavam. O único que se distinguiu naquela mediania foi
Emmérico Nunes que não esteve presente em pessoa, mas enviou trabalhos, numa
cumplicidade com os compatriotas que procurou manter sempre, enviando trabalhos
para os salões do Humoristas também.
A sua ascendência
germânica facilitou-lhe a vida em
Munique. A sua abertura estética para o Modernismo, com um
espírito arguto de critica satírica deram-lhe espaço para ser de imediato
aceite nos quadros do jornal “Meggendorfer Blatter”, o segundo jornais mais
importante do humor germânico. Em Paris ele apreendeu a simplicidade elegante
da sátira social, misturando o traço arte-nova com o expressionismo, explorando
as linhas geométricas do cosmopolitismo, com um traço agressivo da acutilância
critica. Ele era um bom sucessor de um Leal da Câmara, de um Celso Hermínio
juvenis que para sobreviverem acabaram por adoçar o traço. Emmérico, por seu
lado estava nos países que amavam essa forma irreverente de desenhar, e assim
se manteve durante duas décadas no “Meggendorfer Blatter, assim como colaborará
com o “Fliegende Blatter”, o “Zuricher Ilustrierte Zeitung”, o “Haagscher
Courant”, “Der Spatz”, “Buen Humor”… um trabalho que fez dispersar mais de dois
milhares de desenhos, originais quase todos perdidos nas redacções desses
periódicos de além fronteiras. Devido a esta longa colaboração com os jornais
germânicos, suíços e holandeses li em alguns textos sobre Emmérico como o
artista português que mais publicou no estrangeiro. Isso é falso porque não nos
podemos esquecer de um Julião Machado que trabalhou durante quase três décadas
no Brasil, de Leal da Câmara que teve colaboração em Paris de 1900 a 1915, de Correia Dias
que também no Brasil trabalhou de 1914 a 1935, do Zeco, do Hugo Sarmento… ou do
Brito que trabalha em Paris desde 1970 até aos nossos dias. Foi contudo um dos
artistas que mais sucesso teve além fronteiras, porém esse sucesso infelizmente
não teve repercussão significativa na sua carreira em Portugal.
A sua vida será uma
constante viagem entre a Alemanha, a Suiça e Portugal. Os tempos eram
conturbados, novos ventos estranhos arrasavam o espírito livre da Europa, e se
um dia se realizar a recolha de todo esse material publicado além fronteiras ver-se-á
um excepcional retrato dos costumes, das vicissitudes dos pequeno-burgueses e
novos ricos europeus, desde o cosmopolitismo urbano do centro da Europa ao
mundo rural da Baviera, dos cantões suíços cheios de ironia, de bom humor.
E. N. nunca
trabalhou para o “Simplicissimus”, mas como não dava jeito fazer um trocadinho
com o “Meggendorfer” usamos essa muleta para dizer que Emmérico Nunes é um “Simplicissimus”
Modernista. A corrente estética é semelhante entre os dois jornais, ou seja a
síntese plástica aliada ao expressionismo satírico. Emmérico Nunes foi o
artista português que melhor simboliza essa linha, à qual poderíamos ligar
Christiano Cruz ou António Soares. Noutras variantes ainda mais sintéticas e
menos expressionistas temos todos os outros ditos modernistas como Almada,
Barradas, Collomb…
A modernidade de
Emmérico Nunes está condicionada ao diálogo com o seu público. Para além de ma
paleta mais aberta, com cores fortes e expressionista, a síntese do traço, numa
caligrafia de comunicação directa sem barroquismos, dominarão a sua obra.
As guerras e
instabilidades no centro da Europa foram empurrando Emmérico Nunes para esta
ocidental praia, onde aos poucos foi constituindo família, e um abrigo. Contudo
esse abrigo será sempre precário visto não haver por cá bases sólidas para uma
sobrevivência desafogada de um artista. Aqui vai ter se sujeitar ao que há,
espalhando a sua criatividade do humor adulto ao humor infantil. Da publicidade
ás artes decorativas. Da pintura de retrato á paisagem. De restaurador a
Professor de meninos irrequietos.
Para além de
trabalho para empresas privadas no âmbito da publicidade (Vacuum, Portugal e
Colónias, Agencia Geral do Ultramar…) acabará por pertencer à elite da
“politica de espírito” de António Ferro, um grupo de modernistas que deu um
novo visual de Portugal além fronteiras nas Feiras Internacionais de Paris e de
Nova Iorque, no Mundo Português…
Na imprensa, que é
o que interessa mais a esta casa onde estamos a conferenciar ele deixou obra na
“Ilustração Portuguesa”, “Diário de Lisboa”, “Riso da Vitória”, “Có-có-ró-Có”,
“ABC a Rir”, “ABC”, “ABCzinho”, “Domingo Ilustrado”, “Senhor Doutro”, “Sempre
Fixe”, Voga, “Civilização”, “Espectro”, “Ilustração”, “Magazine Bertrand”,
“Eva”, “Noticias Ilustrado”, “Joaninha”, “Acção”… Neste percurso português duas
fases de destacam, a década de vinte e o trabalho na “Acção”. A década de vinte
é o seu período mais significativo do seu contributo para o modernismo
português, ousando, sendo irreverente ao mesmo tempo que impunha uma linha
mundana e cosmopolita cheio de ironia de influencia do seu trabalho germânico.
Destacdo obras do Riso da Vitória, capas do ABC, a capa do livro “Fantoches”… O
ambiente português, e o gosto das linhas editoriais foram entretanto adoçando o
lápis de Emmérico Nunes na imprensa. O período da “Acção” mostra um traço
caligráfico com influencias da estética dominante nos USA dessa época, mas com
um cunho pessoal de contrastes entre o claro e escuro e com um tom satírico
mais profundo, um pouco mais à direita (na linha editorial do jornal), mas
também com um matiz de revolta, de desconsolo com a vida.
Em toda a sua obra
está subjacente um lado pedagógico, uma vontade de educar as massas, se não
pela ironia, pelo menos pelo gosto estético, ou pela moral ética das histórias
mais infantis do ABCzinho, Senhor Doutor…
Como escreveu
António Ferro, «O Magazine é a espuma da vida, tudo quanto ela tem de branco,
de rendilhado”. Foi esse mar sempre revolto, mas pacificador que deu
voz ao modernismo, que os fez sonhar com novas terras estéticas, com um novo
povo mais educado em beleza estética. «Eu sei bem que o público não sente a
necessidade de arte, – disse Christiano Cruz em entrevista - da mesma
maneira que não sente a necessidade de lavar os pés. Mas as necessidades
criam-se e essa tarefa só nos pode caber a nós, dada a impossibilidade de
mandar o meio, a Paris, educar a vista…»
Emmérico Nunes foi
um desses educadores, um artista mal amado, como quase todos os outros artistas
nacionais. Um artistas que poucos conhecem, e que deve ser urgentemente
recuperado, assim como toda a sua obra internacional. Estas capas, estes
trabalhos para crianças são arte menor? Sim sabemos que é essa a ideia das
principais cabeças mandantes deste país. Não interessa olhar demasiado longe
para ver a boa arte. Hoje em dia todo o município que se preze tem o seu Museu
de Arte Contemporânea. Se não tem um museu tem um centro, se não é um centro é
uma colecção, como se o futuro dependesse de hoje, e não do passado. Antes de
reverenciarmos desalmadamente os artistas de hoje em Museus, trabalhos esses
que irão para o lixo daqui a uns anos após o esfriamento do subjectivismo dos
seus directores, devemos primeiro conhecer a fundo o passado, e saber que um
simplicissimus modernista é significante de obras de um época fundamental da
nossa historia da nossa identidade cultural.
(Texto base da conferencia proferida na Hemerotica de Lisboa em Junho de 2008)
(Texto base da conferencia proferida na Hemerotica de Lisboa em Junho de 2008)
Wednesday, May 08, 2013
18º Marcosur Internacional Prémio Diógenes Taborda
Crónica Rosário Breve - Alegoria apícola por Daniel Abrunheiro
Nada perdura que humano seja.
Brilhantes terão sido as empenas das hoje áridas
Pirâmides do Egipto. Da imortalidade a que se propuseram, areia ficou só, que
permanecer não há-de.
Tirante esta melancolia, permiti-me Vós que Vos
narre certa teimosa perduração de que o muito outonecer da vida me faz
presença, gala e abespinhada teimosia. Foi quando o Carlos “Minhoca” da Fonseca
gozou sem ofensa o bom Augusto Abreu.
Passou-se isto num Inverno benévolo de há coisa
de vinte e picos anos. O Augusto tinha ajudado o filho a apossa-trespassar-se
de um café-restaurante dedicado a refeições operário-diárias. A malta
frequentava aquilo à noite, extintas do expediente as obrigações horárias.
Tinha outra coisa, o Augusto Abreu: era homem de virtudes d’antigamente,
daquelas virtudes que sabem o valor da horta, a beneficência da árvore de
fruto, o tesourinho do porco d’engorda, o quanto para comprar uma lareira conta
o salmourar da sardinha em caixa de sal com fundo de feto roubado ao pinhal.
Era um homem que se interessava, pronto.
E, pronto, o Carlos “Minhoca” da Fonseca não
quis outra vítima que Augusto, agravado de Abreu, se não chamasse, nesse
Inverno que nem eu nem Vós reviveremos.
Disse assim o “Minhoca”, como quem não quer a
coisa:
– Palavra
de honra que achei estranho a mulher só me ter pedido 500 paus por um pote de
dois litros de mel do purinho.
Eu nada disse: porque sei bem mais de minhocas
do que de apiculturas. Mas o Augusto Abreu (bom homem, pai de seu casalinho,
maridinho de sua esposa varizenta & cultor indefectível de seu quintalinho
sem ferrugem nem caracol fumigado) caiu que nem um estorninho em visco
armadilhado com anzol de silveira:
– Ó senhor
Carlos, o senhor desculpe mas isso interessa-me muito. Eu fico com dez potes,
se o senhor me der o número de telefone da senhora.
E o sacana do “Minhoca” assim:
– Dou-lho
com todo o gosto, senhor Augusto, mas vai ter de esperar dois anos pela
encomenda.
E o pobre Augusto assim para ele:
– Dois
anos?! Então porquê?
E o mau: –
Pois, dois anos porque a senhora de momento está a trabalhar só com uma abelha.
Ora, isto do trabalhar da solitária zunidora e
da ilusão da eternidade tem tudo a ver com o mesmo, digo (ou bebo) eu.
E de potes, notas de 500 à Alves dos Reis, minhocas,
abelhas e coelhos percebo eu.
E também muito de pirâmides, que mortas estão
mas continuam a apontar para o céu como os imbecis que ainda se admiram de ver
passar aviões que de Bruxelas, ou de Berlim, nada mais trazem que perdure senão
a inelutabilidade da morte e a porquita miséria a meio conto de réis o pote.
Wednesday, May 01, 2013
1º de Maio por Tonho Oliveira
Dou-te uma filia se me deres uma fobia – Crónica Rosário Breve por Daniel Abrunheiro
Não
somos um país pobre. Somos um país de
pobres. São coisas muito diferentes. Pobre
é quem não pode. De pobre é de quem
não quer. E de quem, portanto, não crê.
Nenhum
país de gente a sério seria capaz de empobrecer vitaliciamente com todo este
mar à janela, todo este solo tão generoso à porta e todo este clima como idêntico
outro não há em quintal geográfico algum. Também somos um morredouro de pobretes
parvo-alegres. Exercemos sem pudor e sem consciência a paradoxal idiotia de,
não nos lembrando de quase nada (olha a História, estúpido!), pedestalizar a
honras de palavra-pátria o substantivo “saudade”. De anfractuosidades dentárias
pejadas de broa rilhada e de jaquinzinho moído a cuspo, ouvimos o fado como
quem se injecta de vinagre com açúcar amarelo. Mais (e pior): somos quase todos
hibristófilos, paranóia derivada da mariquice a que os ratolas dos psiquiatras
chamam coulrofobia. Abrindo o livro:
1)
“Hibristofilia” é a veneração doentia por alegadas celebridades, da Maya
charlatã ao Marcelo leitor de capas de livros, do histriónico Baião ao bacoquismo
separatista dos mútuos clones Alberto João/ Jorge Nuno, do papa novo que
antiargentinamente corpuscristou a hóstia nas fauces do genocida Videla ao
casalinho-é-não-é-agora-sim-daqui-a-bocado-anavalho-te-o-plasma
Djaló/Floribela, que deveriam ser presos ambos por terem baptizado as filhas
com nomes de posologia farmacêutica em tailandês. Sim, somos hibristófilos, não
há que abjurar.
2)
“Coulrofobia” é ter miúfa/cagufa de palhaços. Ora, ter medo de “clowns” será
próprio de crianças hipersensíveis criadas por padrastos dados à bissexualidade,
à cocaína e ao sonho de ter um monte
alentejano como os que aparecem sempre nos inquéritos de Verão do Expresso, mas é impróprio de um povo
adulto com quase 900 anos de História como o Manoel de Oliveira. E votar neles
é ainda pior, porque indesculpável não é o erro, é o repeti-lo tanta vez,
porra.
Eu
não quero saber para nada dos imbecis dos Islandeses, essas bactérias
criogénicas que parece terem vo(l)tado a empoleirar no poder os mesmos
facínoras de direita que lhes comeram as casas, as filhas e a arquibancada central
de assistir àquele cabrão de vulcão lá deles que mata frotas aéreas como nós
por cá varejamos moscas. Eu quero saber é dos Portugueses, essa heróico-pícara
grei de tremoç’ó’pevid’amendoim pinoquialmente capaz de um Sócrates e
soporiferamente incapacitada de um Excel-lento Gaspar, que eu nem a um nem a
outro empregaria como irmanador de peúgas num lar de pernetas.
Extinto
o cambalacho das nóvóportunidades, que nos resta senão os velhos fiascos? Os
sem-abrigo agora têm todos (pinoquialmente etc.) o 12.º ano, diploma que ainda
ninguém me provou estar na posse do Miguel R. (R de “raposa”). Ai têm o 12.º? E
agora? Vão licenciar-se em quê? Em Instalação & Detonação GPL num
Multibanco Perto de Si? E doutorar-se em que semântica executivo-operatória? Em
Carjacking Romeno-Angolano a Crédito-BPN?
Tende
cá paciência, ó parvo-alegretes. Paciência e prestidigitação: encarando
Portugal como cartola, seríamos todos mágicos, mágicos a ponto de a primeira
coisa a fazer sem mais delongas consistir em tirarmos o Coelho da Cartola, não
sei se estão a ver, nada na manga, ó manguela. A seguir, perceber de vez que o
euro não é moeda unitária nenhuma, é mas é o lobo do marco alemão com pele de
cordeiro a imolar na mesma ara sacrificial de onde começaram duas guerras
mundiais para os inumeráveis (mas enumeráveis) milhões de mortos e estropiados
do costume.
Finalizo
concordando a priori com tudo quanto, a este e outros propósitos, Cavaco não
pensar - e acusando tudo quanto ele não disser, que eu pobre ainda posso ser,
agora coulrófobo é coisa que nem a minha a tia, quanto mais o pai das minhas
ricas filhas.